Uma das espécies de rã mais comum do Reino Unido está sofrendo as consequências do aquecimento global, identificou um time de cientistas do país. De nome científico Rana temporaria, a espécie convive com o aumento da incidência e da severidade de doenças provocadas por um tipo de vírus.
As infecções pelo vírus tendem a se espalhar para outras regiões do país e se estender por outras estações do ano, caso o aquecimento continue.
As características das doenças infecciosas e seus surtos depende das interações entre hospedeiros e patógenos e das condições ambientais. Segundo o estudo, o clima influencia tanto o hospedeiro quanto o patógeno.
O hospedeiro pode alterar seu comportamento, passar por circunstâncias de estresse ou baixa imunidade em função das condições climáticas. Por sua vez, o crescimento e a sobrevivência de patógenos podem estar ligados ao clima.
É o que ocorre em doenças infecciosas que mostram picos durante uma estação específica do ano. A sazonalidade na incidência da doença ocorre em parte pela flutuação de fatores como a temperatura e as chuvas, cuja influência favorece ou inibe a disseminação.
No Brasil, a dengue fornece um exemplo da influência do clima. A doença registra um padrão sazonal, em que o predomínio de casos acontece durante o verão. Entre outros motivos, essa época do ano traz temperaturas e chuvas mais elevadas, favoráveis ao ciclo de vida do mosquito transmissor da doença.
Contudo, dado a complexidade de fatores envolvidos na emergência de doenças infecciosas, estabelecer o papel exercido pelo clima é desafiador. Em especial quando se busca investigar o efeito do aquecimento global e das mudanças climáticas.
No estudo da rã do Reino Unido, os cientistas investigaram se o aumento da temperatura estaria interferindo em surtos de doenças virais. Eles combinaram análises em um modelo epidemiológico com experimentos em laboratório e levantamentos em campo.
Todas as linhas de evidência indicaram que o aumento das temperaturas traziam consigo epidemias mais severas. O levantamento de campo mostrou que a infecção se tornava mais comum durante episódios de calor, e sua frequência aumentou devido ao aquecimento na década de 1990.
Em laboratório, constatou-se um incremento na propagação do vírus, na incidência da doença e nas taxas de mortalidade em função das maiores temperaturas.
Os cenários futuros de mudanças climáticas projetam cada vez mais calor para o Reino Unido. A rã comum do país pode acabar, no final das contas, ficando rara.
Mais informações: Price, Stephen J., et al. "Effects of historic and projected climate change on the range and impacts of an emerging wildlife disease." Global Change Biology (2019).
Imagem: Flickr/ Tony Morris
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