O reflorestamento pode reverter os impactos do desmatamento sobre o clima local nos trópicos e nas regiões temperadas, identificou estudo de cientistas de universidades brasileiras e do Estados Unidos. Mas, por outro lado, se o desmatamento no Brasil continuar no mesmo ritmo atual, ele contribuirá para o aumento das temperaturas.
Nos últimos 300 anos, as atividades humanas interferiram significativamente na cobertura vegetal ao redor do mundo. O principal veículo de alteração tem sido o desmatamento, substituindo florestas por plantação ou outros tipos de uso do solo. Mas o processo também é acompanhado pelo reflorestamento, seja pela restauração passiva da vegetação, seja pelo plantio de novas florestas.
A intervenção na cobertura vegetal tem consequências para as condições climáticas locais. De acordo com o estudo, as florestas influenciam a temperatura da superfície. Elas modificam o albedo - fração da radiação solar absorvida - e interagem com a atmosfera por causa da evapotranspiração, que consiste na emissão de vapor d'água.
Pesquisas anteriores investigaram como as alterações na vegetação interferiam no clima local em todo o mundo. Mas ainda persistem muitas incertezas, em especial quanto à soma dos efeitos opostos do desmatamento e do reflorestamento, bem como as variações conforme a latitude do planeta.
Para calcular o efeito em todo o mundo, o estudo analisou dados sobre a mudança na cobertura vegetal registrada entre 2000 e 2010. Através de modelos, quantificaram o impacto da vegetação sobre a temperatura local ao longo do período, além de projetarem as possíveis consequências do desmatamento no Brasil até 2050.
Taxas iguais de desmatamento e de reflorestamento resultaram em impacto de magnitude similar, mas em direção oposta, sobre a temperatura local. A única exceção foram as zonas boreais. Em geral, a influência sobre a temperatura em cada região esteve associada ao tamanho das áreas desmatadas ou reflorestadas.
Nos trópicos, o desmatamento levou ao aumento da temperatura de 0,38° C entre 2000 e 2010, enquanto que o reflorestamento, a uma diminuição de -0,18° C. A diferença reflete a maior extensão das áreas de florestas tropicais desmatadas, em comparação com aquelas em regeneração.
O aquecimento causado pelo desmatamento nas zonas temperadas foi de 0,16º C, enquanto que o reflorestamento diminuiu a temperature em cerca de -0,19ºC. Nas zonas boreais, todavia, o desmatamento esteve associado a um leve resfriamento, de aproximadamente -0,04ºC entre 2000 e 2010. A recuperação da cobertura vegetal apresentou efeitos nulos.
As projeções para o caso brasileiro mostraram uma grande influência sobre o clima local. No cenário de desmatamento continuado, a perda da vegetação fez subir consideravelmente a temperatura nos biomas da Amazônia e do Cerrado. O mesmo não se verificou no cenário de pleno cumprimento do código florestal brasileiro, em que o desmatamento seria evitado.
A avaliação se limitou aos efeitos da cobertura vegetal sobre o clima local, sem levar em consideração o aquecimento global. Ambos os fatores terão um impacto combinado sobre a temperatura. Por exemplo, em um cenário de redução de 50% na cobertura florestal dos trópicos, o aquecimento local seria de 1,08° C. Outros 1,7° C de aumento da temperatura seriam provocados pelo aquecimento global.
Para se evitar a continuidade do aquecimento local e global, os cientistas ressaltaram a importância de medidas efetivas de combate ao desmatamento. Ao mesmo tempo, o reflorestamento natural ou plantado, em áreas tropicais e temperadas, pode reverter os efeitos do desmatamento e contribuir para a biodiversidade.
Mais informações: Prevedello JA, Winck GR, Weber MM, Nichols E, Sinervo B (2019). Impacts of forestation and deforestation on local temperature across the globe. PLoS ONE 14(3): e0213368.
Imagem: figura 2 do estudo - ilustração de como a cobertura vegetal influencia o clima local por meio do albedo e da evapotranspiração
Nos últimos 300 anos, as atividades humanas interferiram significativamente na cobertura vegetal ao redor do mundo. O principal veículo de alteração tem sido o desmatamento, substituindo florestas por plantação ou outros tipos de uso do solo. Mas o processo também é acompanhado pelo reflorestamento, seja pela restauração passiva da vegetação, seja pelo plantio de novas florestas.
A intervenção na cobertura vegetal tem consequências para as condições climáticas locais. De acordo com o estudo, as florestas influenciam a temperatura da superfície. Elas modificam o albedo - fração da radiação solar absorvida - e interagem com a atmosfera por causa da evapotranspiração, que consiste na emissão de vapor d'água.
Pesquisas anteriores investigaram como as alterações na vegetação interferiam no clima local em todo o mundo. Mas ainda persistem muitas incertezas, em especial quanto à soma dos efeitos opostos do desmatamento e do reflorestamento, bem como as variações conforme a latitude do planeta.
Para calcular o efeito em todo o mundo, o estudo analisou dados sobre a mudança na cobertura vegetal registrada entre 2000 e 2010. Através de modelos, quantificaram o impacto da vegetação sobre a temperatura local ao longo do período, além de projetarem as possíveis consequências do desmatamento no Brasil até 2050.
Taxas iguais de desmatamento e de reflorestamento resultaram em impacto de magnitude similar, mas em direção oposta, sobre a temperatura local. A única exceção foram as zonas boreais. Em geral, a influência sobre a temperatura em cada região esteve associada ao tamanho das áreas desmatadas ou reflorestadas.
Nos trópicos, o desmatamento levou ao aumento da temperatura de 0,38° C entre 2000 e 2010, enquanto que o reflorestamento, a uma diminuição de -0,18° C. A diferença reflete a maior extensão das áreas de florestas tropicais desmatadas, em comparação com aquelas em regeneração.
O aquecimento causado pelo desmatamento nas zonas temperadas foi de 0,16º C, enquanto que o reflorestamento diminuiu a temperature em cerca de -0,19ºC. Nas zonas boreais, todavia, o desmatamento esteve associado a um leve resfriamento, de aproximadamente -0,04ºC entre 2000 e 2010. A recuperação da cobertura vegetal apresentou efeitos nulos.
As projeções para o caso brasileiro mostraram uma grande influência sobre o clima local. No cenário de desmatamento continuado, a perda da vegetação fez subir consideravelmente a temperatura nos biomas da Amazônia e do Cerrado. O mesmo não se verificou no cenário de pleno cumprimento do código florestal brasileiro, em que o desmatamento seria evitado.
A avaliação se limitou aos efeitos da cobertura vegetal sobre o clima local, sem levar em consideração o aquecimento global. Ambos os fatores terão um impacto combinado sobre a temperatura. Por exemplo, em um cenário de redução de 50% na cobertura florestal dos trópicos, o aquecimento local seria de 1,08° C. Outros 1,7° C de aumento da temperatura seriam provocados pelo aquecimento global.
Para se evitar a continuidade do aquecimento local e global, os cientistas ressaltaram a importância de medidas efetivas de combate ao desmatamento. Ao mesmo tempo, o reflorestamento natural ou plantado, em áreas tropicais e temperadas, pode reverter os efeitos do desmatamento e contribuir para a biodiversidade.
Mais informações: Prevedello JA, Winck GR, Weber MM, Nichols E, Sinervo B (2019). Impacts of forestation and deforestation on local temperature across the globe. PLoS ONE 14(3): e0213368.
Imagem: figura 2 do estudo - ilustração de como a cobertura vegetal influencia o clima local por meio do albedo e da evapotranspiração
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