Clima e o declínio da população na América do Sul

Fotografia de ruínas em Cusco, no Peru
Entre 8.000 e 6.000 mil anos atrás, períodos de grande variabilidade climática estiveram associados a declínios nas populações da América do Sul. A tendência ocorreu em larga escala no continente, identificou estudo de arqueólogos do Reino Unido.

Estima-se que a colonização humana da América do Sul teve início por volta de 14 mil anos. Segundo o estudo, populações de caçadores-coletores se dispersaram rapidamente por diversos ambientes do continente, incluindo os Andas, a floresta amazônica e os campos da Patagônia.

Evidências apontam para períodos de despovoamento regional, caracterizados por descontinuidades nos registros arqueológicos. A hipótese para as quedas demográficos no passado considera que os povos teriam abandonado regiões afetadas por regimes climáticos desfavoráveis, deslocando-se para outras áreas, como a Amazônia central ou o leste do Brasil.

O estudo investigou a relação entre o clima e a dinâmica demográfica dos povos pré-colombianos, em especial durante 8.200 e 4.200 anos atrás. Combinou reconstruções das condições climáticas a partir de registros paleoclimáticos com datações de radiocarbono de material arqueológico.

A partir de 8.400 anos atrás, o estudo identificou um estágio, dividido em três etapas, com intensas e mais frequentes anomalias climáticas. O estágio se correlaciona com a queda inicial na população por toda a América do Sul.

Pesquisas arqueológicas anteriores sugeriram que uma ampliação das secas no continente poderia estar ligada ao declínio populacional. O estudo, todavia, ressaltou que, em primeiro lugar, uma variação de grande magnitude das chuvas consistiu em fator de influência sobre as atividades humanas. Em seguida, a maior aridez do clima regional teria levado a impactos desproporcionais em grupos mais vulneráveis.

Gráfica de estimativa de população da América do Sul e eventos climáticos
O gráfico da esquerda mostra a estimativa da população
da América do Sul, com as quedas indicadas pelas sombras azuis.
O gráfico da direita indica a frequência de anomalias climáticas -
destacadas pela sombra cinza. Fonte: figura 2 do estudo.

Ao mesmo tempo, os grupos humanos modificaram os ecossistemas locais, desenvolvendo práticas de manejo e cultivo de plantas. Dessa forma, alteraram a ecologia e o ambiente locais em que realizavam suas culturas. Os pesquisadores ressaltaram que essa modificação cumpriu um papel crucial no contexto da queda da população.

Ainda que tenha se identificado uma tendência em escala continental, a diminuição na população não se deu de modo uniforme no tempo ou no espaço. O estudo apontou para uma provável variabilidade local, não captada no levantamento realizado.

Os efeitos da variabilidade se fariam sentir de forma particular, dependendo das características culturais dos grupos afetados. Em especial no que diz respeito às práticas de cultivo - quanto mais diversa a proporção de recursos vegetais utilizados, mais chances dos grupos possuírem maior resiliência frente à adversidades ambientais.

Pesquisas futuras poderão aprofundar em detalhe a trajetória dos grupos humanos pré-colombianos da América do Sul. E melhorar a compreensão de como as população foram moldada e moldaram as condições ambientais no passado.


Mais informações: Riris, P. and Arroyo-Kalin, M., 2019. Widespread population decline in South America correlates with mid-Holocene climate change. Scientific reports, 9(1), p.6850.
Imagem: Flickr/Paulo Guereta

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