A região nordeste do Brasil experimentou diferentes regimes de chuva ao longo dos últimos 2.300 anos. Entre 1580 e 1900, a região possuía um clima mais úmido, identificou estudo de um time de pesquisadores brasileiros e internacionais.
Abrigando uma grande população, e com problemas atuais de disponibilidade hídrica, o nordeste consiste em uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas do continente.
Durante as últimas décadas, o nordeste do Brasil registrou, de acordo com o estudo, uma queda significativa da quantidade de chuvas. A região experimenta um processo de desertificação mais rápido do que em qualquer outra parte da América do Sul.
Mas os fatores por trás dessa tendência ainda não estão claros. Um deles consiste na posição da Zona de Convergência Intertropical - ZCIT -, um cinturão tropical de nuvens tropicais formado sobre o Oceano Atlântico. A posição da ZCIT varia latitudinalmente com as estações, trazendo chuvas para o nordeste.
Outros fenômenos climáticos ligados à interação entre o oceano e a atmosfera também exercem influência nas chuvas do nordeste. Um exemplo é Oscilação Sul do El Niño - OSEN.
Pesquisas paleoclimatológicas anteriores detectaram que, no passado, as regiões das costas tropicais do Atlântico experimentaram variações climáticas. O clima do passado era diferente do clima presente. No entanto, usualmente se atribuía essas mudanças apenas a deslocamentos na posição da ZCIT.
Faltavam dados e registros paleoclimatológicos locais que caracterizassem melhor as condições ambientais do passado e suas possíveis causas. Para investigar essa questão, os pesquisadores coletaram sedimentos da Lagoa do Boqueirão, no município de Camocim, no estado do Ceará.
A partir da análise de isótopos de hidrogênio de matéria orgânica da caatinga presente nos sedimentos, foi possível reconstruir as mudanças na precipitação experimentadas pela região nos últimos 2300 anos.
O estudo detectou três principais períodos com regimes de precipitação distintos. O primeiro ocorreu entre 500 AC e 420 DC e foi predominantemente úmido. Em seguida tem início uma abrupta e longa aridificação, cuja duração se estendeu entre 500 e 1.300 anos atrás.
O terceiro período corresponderia à chamada pequena era do gelo, entre 1580 e 1900, quando o hemisfério norte do planeta experimentou temperaturas mais frias. Nesse período, as condições úmidas retornaram ao nordeste brasileiro.
O deslocamento da ZCIT não poderia explicar as modificações no regime de chuvas regional. Os pesquisadores sugeriram, como outros fatores, as variações na temperatura da superfície do Atlântico e os padrões dos ventos alísios do sudeste da bacia tropical do Atlântico Sul.
Projeta-se que o aumento das temperaturas no hemisfério norte, causado pelo aquecimento global, poderá interferir na posição da ZCIT, com repercussões para o clima no nordeste do Brasil. Não é, contudo, o único fator em alteração que poderá trazer consequências.
Mais informações: Utida, Giselle, et al. "Tropical South Atlantic influence on Northeastern Brazil precipitation and ITCZ displacement during the past 2300 years." Scientific Reports 9.1 (2019): 1698.
Imagem: Edilson Moura
Abrigando uma grande população, e com problemas atuais de disponibilidade hídrica, o nordeste consiste em uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas do continente.
Durante as últimas décadas, o nordeste do Brasil registrou, de acordo com o estudo, uma queda significativa da quantidade de chuvas. A região experimenta um processo de desertificação mais rápido do que em qualquer outra parte da América do Sul.
Mas os fatores por trás dessa tendência ainda não estão claros. Um deles consiste na posição da Zona de Convergência Intertropical - ZCIT -, um cinturão tropical de nuvens tropicais formado sobre o Oceano Atlântico. A posição da ZCIT varia latitudinalmente com as estações, trazendo chuvas para o nordeste.
Outros fenômenos climáticos ligados à interação entre o oceano e a atmosfera também exercem influência nas chuvas do nordeste. Um exemplo é Oscilação Sul do El Niño - OSEN.
Pesquisas paleoclimatológicas anteriores detectaram que, no passado, as regiões das costas tropicais do Atlântico experimentaram variações climáticas. O clima do passado era diferente do clima presente. No entanto, usualmente se atribuía essas mudanças apenas a deslocamentos na posição da ZCIT.
Faltavam dados e registros paleoclimatológicos locais que caracterizassem melhor as condições ambientais do passado e suas possíveis causas. Para investigar essa questão, os pesquisadores coletaram sedimentos da Lagoa do Boqueirão, no município de Camocim, no estado do Ceará.
A partir da análise de isótopos de hidrogênio de matéria orgânica da caatinga presente nos sedimentos, foi possível reconstruir as mudanças na precipitação experimentadas pela região nos últimos 2300 anos.
O estudo detectou três principais períodos com regimes de precipitação distintos. O primeiro ocorreu entre 500 AC e 420 DC e foi predominantemente úmido. Em seguida tem início uma abrupta e longa aridificação, cuja duração se estendeu entre 500 e 1.300 anos atrás.
O terceiro período corresponderia à chamada pequena era do gelo, entre 1580 e 1900, quando o hemisfério norte do planeta experimentou temperaturas mais frias. Nesse período, as condições úmidas retornaram ao nordeste brasileiro.
O deslocamento da ZCIT não poderia explicar as modificações no regime de chuvas regional. Os pesquisadores sugeriram, como outros fatores, as variações na temperatura da superfície do Atlântico e os padrões dos ventos alísios do sudeste da bacia tropical do Atlântico Sul.
Projeta-se que o aumento das temperaturas no hemisfério norte, causado pelo aquecimento global, poderá interferir na posição da ZCIT, com repercussões para o clima no nordeste do Brasil. Não é, contudo, o único fator em alteração que poderá trazer consequências.
Mais informações: Utida, Giselle, et al. "Tropical South Atlantic influence on Northeastern Brazil precipitation and ITCZ displacement during the past 2300 years." Scientific Reports 9.1 (2019): 1698.
Imagem: Edilson Moura
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