A maior erupção vulcânica na Antártica

Há quase 4 mil anos atrás, uma grande erupção vulcânica teria provocado efeitos climáticos e ecológicos significativos em uma vasta área da Antártica, apontou estudo de um grupo de cientistas de universidades do Canadá, da Espanha e do Reino Unido.

Os vulcões exercem influência sobre o sistema climático. As grandes erupções emitem aerossóis para a atmosfera, levando à uma menor absorção de radiação solar e a um breve episódio de resfriamento do planeta.

A influência global sobre o sistema climático usualmente ocorre pelas erupções de vulcões localizados na região dos trópicos. No caso de regiões de alta latitude, a atividade vulcânica também pode desencadear um breve resfriamento em menor escala menor.

Mas, segundo o estudo, o conhecimento a respeito do vulcanismo nas regiões polares ainda é limitado. Faltam medidas precisas do tempo e das características de erupções ocorridas no passado.

Os cientistas investigaram o maior vulcão ativo da Península Antártica, chamado de Ilha da Decepção. Consiste no maior vulcão das Ilhas Shetland do Sul - o diâmetro de sua base possui aproximadamente 30 quilômetros.

Cinzas originadas de erupções do vulcão foram coletadas em áreas a quase 1.300 km de distância, bem como em núcleos de gelo na Antártica. Isso demonstra um grande potencial em afetar o clima no e ao redor do continente antártico.

Registros indicam que o vulcão Ilha da Decepção entrou em erupção mais de vinte vezes desde o século 19. Mas o principal evento, no qual a caldeira do vulcão foi formada, permanecia sem uma datação correta.

Nesse evento, estima-se que entre 30 a 60 km3 de magma tenham sido expelidos, um volume comparável à catastrófica erupção do vulcão Tambora em 1815. Ele teria sido a erupção de maior magnitude, acompanhado de intensos tremores sísmicos e terremotos de alta magnitude, e pela qual o Ilha de Decepção teria ganho sua forma atual.

O mapa traz o vulcão ilha de decepção, cuja caldeira se encontra no centro. As fotos indicam pontos de coleta de material geológico e de tephra. Fonte: figura 2 do estudo.

Os cientistas coletaram sedimento de lagos em uma ilha próxima ao vulcão. Os sedimentos continham resquícios de cinzas e material proveniente da erupção, denominados de tephra.

Eles analisaram as características geoquímicas e físicas dos sedimentos e os compararam com outros registros geológicos e paleoclimáticos. Dessa forma, puderam estabelecer com mais precisão a possível data da grande erupção.

O estudo indicou que ela ocorreu por volta de 3.980 anos atrás, e constituiria a maior erupção vulcânica na Antártica durante o período do Holoceno - que compreende os últimos 11 mil anos.

O material ejetado pela caldeira do Ilha da Decepção foi se espalhou amplamente pela Antártica, atingindo áreas a mais de 4.600 quilômetros de distância. Além da erupção, o estudo identificou que um grande terremoto teria atingido a região da Península Antártica.

As consequências de uma erupção de escala tão grande se fariam sentir em todo o clima do hemisfério sul. Uma vasta área do pólo sul experimentaria também os efeitos na ecologia. Todavia, os cientistas se limitaram a estabelecer com maior precisão a data da maior erupção do vulcão.

Uma análise das consequência para a Antártica e além dependerá de pesquisas a respeito de registros paleoclimáticos, como sedimentos e núcleos de gelo.


Mais informações: ANTONIADES, Dermot et al. The timing and widespread effects of the largest Holocene volcanic eruption in Antarctica. Scientific reports, v. 8, n. 1, p. 17279, 2018.
Imagem: figura 1 do estudo - mapa da Antártica e das ilhas Shetland do Sul

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