Ainda que pequenas, essas variações serão relevantes para o cumprimento da meta, indica estudo de cientistas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Elas influenciam não apenas a data em que se projeta que a temperatura irá subir até o limite estabelecido, mas também o orçamento de carbono restante.
O estudo ressalta que o termo 'temperatura média global' não é precisamente definido no texto do acordo de Paris. Com isso, o cumprimento da meta passa a depender das diferentes definições e técnicas de medição da temperatura global existentes.
Uma das definições considera a temperatura global como a temperatura média do ar próxima à superfície dos continentes. Essa definição foi adotada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC, na sigla em inglês, para analisar o orçamento de carbono. Ela é usualmente utilizada em projeções de modelos climáticos.
Outra definição calcula a temperatura média global a partir da integração dos dados da temperatura do ar próxima à superfície dos continentes com os dados da temperatura da superfície das águas dos oceanos. Essa definição está presente nos relatórios do IPCC. Os registros observacionais do aumento da temperatura global estão baseados nessa definição.
Apesar de não constar uma definição explícita, o acordo de Paris também se baseou nessa definição.
Todavia, segundo os cientistas, há três fatores que interferirão no cálculo da temperatura, introduzindo variações. Em primeiro lugar, há regiões do planeta sem dados suficientes ou disponíveis. A forma como essa ausência é tratada no método de cálculo introduz variações.
Em segundo lugar, a temperatura média do ar próxima à superfície dos continentes tende a se elevar mais rapidamente do que a temperatura da superfície das águas dos oceanos. Dessa forma, o cálculo da temperatura global, incluindo dados do ar e das águas, produzirá valores inevitavelmente diferentes daqueles calculados apenas com dados do ar.
Finalmente, áreas dos oceanos atualmente ocupadas por gelo marinho estão sofrendo alterações. O tratamento dado a essas áreas interfere no cálculo da temperatura.
Os cientistas estimaram o orçamento de carbono para as duas definições e para diferentes modos de lidar com os três fatores mencionados acima. Foram considerados um cenário de baixas e outro de altas emissões de gases de efeito estufa. Utilizando um modelo climático, estimaram o aumento da temperatura e o orçamento de carbono para cumprir a meta do acordo de Paris.
O estudo mostrou que registros observacionais, produzidos por centros de pesquisa distintos, trazem variações no cálculo da série histórica do aumento da temperatura global. Dessa forma, a escolha do tipo de produto tem implicações relevantes para o acordo de Paris.
Por exemplo, a estimativa do aquecimento causado pela atividade humana, do período pré-industrial até o presente, foi 20% maior na série histórica reconstruída por um centro de pesquisa em comparação com a de outro. Como consequência, o orçamento de carbono seria cerca de 80 gigatoneladas menor.
A formulação das políticas climáticas deve descrever com maior clareza a referência e o método de medição da temperatura média global, ressaltou o estudo. Assim a comunidade científica poderá contribuir melhor com a definição de medidas de mitigação.
Mais informações: Global temperature definition affects achievement of long-term climate goals
Imagem: Figura 2 do estudo - gráfico com a série temporal da temperatura média do ar próximo à superfície dos continentes. Abrange o período histórico entre 1861 e o presente e as projeções até 2100 para um cenário de baixas emissões. A linha preta mostra o valor global, enquanto que as linhas mais finas indicam a mudança da temperatura de acordo com a latitude. Os maiores aumentos se concentram nas altas latitudes do hemisfério norte (60-90N).
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