Nas últimas décadas, a maioria das regiões do planeta tem registrado aumento da temperatura média, apesar de grande variação geográfica e no tempo, afirma estudo de um grupo de cientistas da Austrália. Em alguns locais, a taxa de aquecimento global tem sido extrema, de aproximadamente 1°C por década.
O aquecimento global pode ser caracterizado tanto pela quantidade quanto pela taxa de aquecimento registradas durante um intervalo de tempo específico. Entre 1880 e 2012, a quantidade de aquecimento observado na temperatura superficial média do planeta foi de cerca de 0,85°C. Desde 1975, a taxa de aquecimento por década ficou entre 0,15°C e 0,20°C.
De acordo com o estudo, as duas características são importantes para a adaptação às mudanças climáticas. Ecossistemas ou setores da economia podem ser vulneráveis à temperatura e, dessa forma, à quantidade de aquecimento, ou eles podem ser sensíveis à taxa de mudança. Mas a comunidade científica tem se concentrado em análises da quantidade de aquecimento.
Os cientistas decidiram investigar a taxa de aquecimento global da temperatura. Um dos aspectos do aumento da temperatura média global é o modo diverso pelo qual ela se expressa no espaço e no tempo. Um exemplo de variação no ritmo de aquecimento ao longo do tempo é o fato de algumas décadas registrarem aquecimento superior a outras.
Por sua vez, a heterogeneidade espacial da taxa de aquecimento está ligada à influência dos diversos componentes do sistema climático. Entre eles, estão as correntes e padrões de circulação da atmosfera e dos oceanos, que distribuem energia ao redor do planeta de uma forma bastante diversa. Ou a intensidade do efeito estufa, que também pode variar de uma região para outra.
O estudo ressalta que, frente a tamanha diversidade, não se deve esperar que todas as regiões sigam a mesma trajetória de aquecimento. A fim de investigar essas flutuações espaciais e temporais, os cientistas analisaram uma série de dados com o registro do aumento da temperatura média da superfície global entre 1850 e 2015.
Foi identificada a proporção de área do planeta que apresentou alguma tendência, seja positiva (aquecimento) ou negativa (resfriamento), de variação da temperatura ao longo de um período determinado. A classificação de positiva ou negativa de cada região geográfica toma como referência a temperatura média global. A avaliação se estendeu também às projeções de aquecimento global até o ano de 2100, considerando cenários de baixas, médias e altas emissões.
Heterogêneas, as taxas de aquecimento flutuaram entre 0,5°C e 1°C por década de uma área para outra. E mesmo quando a temperatura média global apresentou uma tendência positiva relevante, os cientistas apontaram que algumas áreas do planeta tiveram tendências contrárias, de resfriamento. A partir de 1970 as tendências positivas se espalharam por quase todo o planeta, sendo que em algumas áreas, ela foi 4 vezes superior à média global.
O estudo ressalta, todavia, que os processos naturais que levam à diversidade espacial nas tendências de temperatura continuam a operar à medida que o planeta aquece. Com isso, deve se manter o mesmo perfil de distribuição diversa da taxa de aquecimento, com áreas apresentando valores mais altos e outras, menores. Também pode acontecer de regiões atravessarem momentos de aceleração na taxa de aquecimento.
A variabilidade natural dominava em intervalos de tempo de curto prazo. Quando foram analisados os dados de somente 5 anos, o planeta apresentou uma proporção quase igual de área em aquecimento ou resfriamento. Entre 1850 e 2015, ou nas projeções de aquecimento global até 2100, sempre que a avaliação se restringiu a um período de somente 5 anos, a mesma proporção se manteve.
Onde quer que você esteja no planeta, lembra o estudo, no curto prazo haverá a mesma probabilidade de experimentar uma tendência de temperatura negativa ou positiva em relação à tendência global. Isso é reflexo da variabilidade natural e tem pouca relevância a longo prazo em escala global.
Em intervalos de tempo maiores, de 15 e de 30 anos, a proporção da área da Terra com tendências negativas se alterou de uma década para outra devido a processos do sistema climático. Mas essa flutuação diminuiu nas últimas décadas, o que se intensificará ao longo deste século caso o aquecimento global siga a trajetória de cenários de altas emissões.
As observações da temperatura média da superfície terrestre entre 1850 e 2015 mostram como o aquecimento do planeta se deu em meio a uma grande variação temporal e espacial, conclui o estudo. A partir de 1970 a proporção de áreas com tendência negativas diminuiu, alcançando a maior taxa de aquecimento médio global de todo o período. É possível reduzir a taxa global de aquecimento em cenários de baixas emissões, mas naqueles de emissões mais elevadas ela persistirá ao longo do século 21.
Mais informações: Transient response of the global mean warming rate and its spatial variation
Imagem: Figura 1 do estudo/ gráfico do aumento da temperatura média global
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