O objetivo do estudo foi quantificar a precipitação de neve na região da estação francesa na Antártica. Durante 2015 e 2016, os pesquisadores usaram uma combinação de instrumentos para fazer medições sobre o tipo e a intensidade da precipitação e sobre a quantidade de neve acumulada.
Os resultados obtidos causaram surpresa, pois registravam um declínio acentuado da precipitação de neve perto do solo que não era consistente que as demais observações. Para explicar os resultados, os cientistas levantaram a hipótese de que a inconsistência era devido aos chamados ventos catabáticos.
Os ventos catabáticos sopram do interior do continente em direção às regiões costeiras. Frequentes e fortes, os ventos catabáticos tem origem nos altos planaltos. Devido às condições planas do terreno na Antártica, os ventos ganham força à medida que descem em direção à costa. Eles produzem uma camada de ar muito seca na atmosfera, de aproximadamente 1 quilômetro de extensão.
Quando a neve cai e atravessa essa camada seca, o movimento do vento faz com que o cristal de neve passe diretamente do estado sólido para o gasoso, um processo denominado de sublimação.
Ao reavaliarem dados coletados por instrumentos em estações de pesquisa na Antártica Oriental, os pesquisadores encontraram evidências da presença de ventos catabáticos capazes de provocar a sublimação da neve.
Confirmada a hipótese, eles utilizaram um modelo computacional para reproduzir as condições atmosféricas na região de estudo, incluindo os efeitos dos ventos. Os resultados do modelo foram validados por meio dos dados coletados.
O passo seguinte foi rodar novamente o modelo climatológico, mas desta vez abrangendo todo o continente da Antártica. Com isso, descobriu-se que o processo de sublimação causado pelos ventos catabáticos exerce enorme influência no acúmulo de neve da calota polar.
Foi estimada em cerca de 17% a quantidade de neve que, ao cair, é sublimada pelo vento e não se acumula no solo. Esse total variou de acordo com a região, chegando a 35% ao redor da Antártida Oriental.
Por não ser detectado pelos satélites, o fenômeno da sublimação da neve não havia sido devidamente considerado pela ciência.
As projeções anteriores estimavam que o aquecimento global teria duas principais consequência para a calota polar da Antártica: de um lado, a perda de gelo pelo aumento do derretimento, e de outro, o ganho de gelo pela maior precipitação de neve. Uma consequência contrabalançaria a outra.
O estudo mostrou que os impactos do aquecimento global na Antártica podem ser mais complexos do que o suposto. O efeito dos ventos catabáticos, que deverá se intensificar no futuro, desafia a ideia do equilíbrio entre o ganho e a perda de massa da calota polar da Antártica.
Contudo, mais estudos e coleta de dados em outras partes do continente são necessários, disseram os cientistas.
Fonte: Antarctica: the wind sublimates snowflakes – EPFL News
Mais informações: Grazioli, Jacopo, et al. “Katabatic winds diminish precipitation contribution to the Antarctic ice mass balance.” Proceedings of the National Academy of Sciences 114.41 (2017): 10858-10863.
Imagem: LTE/EPFL
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