As mudanças climáticas agravam o risco de extinção da Araucária

As mudanças climáticas poderão reduzir dramaticamente a área de ocorrência natural da Araucária no Brasil. Estudo de pesquisadores do Paraná e do Rio Grande do Sul sugere que o aumento de temperatura e a alteração no regime hídrico interferirão no potencial de sobrevivência da espécie e no estabelecimento em novas áreas de plantio.

Também conhecida como pinheiro-do-paraná, a Araucária é um símbolo das regiões serranas frias e úmidas do sudeste e sul do país. Nativa do Brasil, ela apresenta uma das maiores taxas de crescimento e de ganho genético. A madeira tem excelente qualidade. As sementes da Araucária – o pinhão – fazem parte da culinária local e servem de alimento a diversas espécies animais, como a gralha azul e a cutia.

Como outras formações vegetais brasileiras, as florestas de Araucária foram significativamente desmatadas, sendo que os remanescentes não representam mais que 7% da área original. Por causa da diminuição de seu habitat pela pressão antrópica, considera-se a araucária uma espécie criticamente ameaçada em nível global. De acordo com os pesquisadores, as mudanças climáticas constitui uma fonte de pressão adicional.

Mapas com a área de potencial ocorrência da Araucária no presente. Cada um dos mapas foi gerado por um modelo computacional diferente. Fonte: figuras 9 e 10 do estudo.

Para detalhar os impactos das mudanças climáticas, os pesquisadores analisaram a relação entre a distribuição atual da espécie e as variáveis ambientais. Utilizando dois modelos computacionais diferentes, puderam identificar as regiões geográficas onde se verificam condições favoráveis para a ocorrência da araucária atualmente no Brasil. A partir de então, simularam dois cenários futuros de mudanças climáticas, um de médias e outro de altas emissões, para os períodos 2011-2040, 2041-2070 e 2071-2100.

Os resultados apontam que a área de potencial ocorrência da Araucária no presente totaliza entre 29 e 37 milhões de hectares, dependendo do modelo utilizado. As projeções sugerem uma forte retração dessa área. Para o período entre 2011 e 2040, a redução foi de aproximadamente 57% no cenário de médias emissões e de cerca de 67% no cenário de altas emissões. No período entre 2071 e 2100, a redução variou entre 76% a quase 100%, dependendo do cenário e do modelo utilizado.

O estudo indica que, para se adaptar ao aumento de temperatura, a Araucária teria de ocupar locais de maior altitude ou mais ao sul do país. As perdas de área nas próximas décadas serão maiores, segundo a ordem de importância, nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Mapa com a área de potencial ocorrência da Araucária no período entre 2071 e 2100 para cenário de médias (esquerda) e altas emissões. Fonte: figura 13 do estudo.


O processo de adaptação da Araucária pode encontrar alguns obstáculos. A começar pelo fato de ele ser mais lento do que as mudanças climáticas, uma vez que se baseia no ciclo de vida longo da espécie. Momentos críticos do ciclo de vida, como a germinação e a dispersão de sementes, são sensíveis às variáveis climáticas. Outros obstáculos à adaptação são o aumento dos riscos de ataque de insetos e de pragas, o aumento de risco dos incêndios florestais, e a competição com outras espécies de plantas tropicais ou invasoras.

A criação de áreas de conservação ou preservação ambiental poderá ajudar a proteger a Araucária da extinção, afirmam os pesquisadores. Eles apontam como áreas prioritárias para preservação as regiões serranas de maior altitude do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Mais informações: Distribuição natural e habitat da araucária frente às mudanças climáticas globais
Imagem: Flickr/Mauro Guanandi

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