A fim de introduzir os efeitos da umidade, os pesquisadores elaboraram um novo indicador da magnitude das ondas de calor, calculado a partir da temperatura máxima diária e da umidade mínima diária. O Indicador da Magnitude das Ondas de Calor – em inglês: Heat Wave Magnitude Index daily, HWMId -, adotado atualmente, leva em consideração somente a temperatura. O novo indicador retrata a sensação térmica, provocada pela associação entre temperatura e umidade.
Utilizando os dados de temperatura máxima diária e da umidade mínima diária produzidos por modelos climáticos, os pesquisadores projetaram a magnitude futura das ondas de calor para os cenários de aquecimento global em 1.5°C, 2°C e 4°C acima da temperatura média do período entre 1861 e 1880. As projeções foram feitas tanto para o indicador adotado atualmente na classificação das ondas de calor quanto para o novo indicador proposto pelos pesquisadores.
A partir das projeções, foi analisada a probabilidade de ocorrência de duas situações relacionadas a impactos sobre a saúde humana. A primeira delas consistiu na ocorrência de ondas de calor com temperaturas acima de 40°C, considerada perigosa em termos da incidência de insolação, hipertermia ou cãibras, e a segunda, a episódios acima de 55°C, consideradas de alto risco.
Ao analisar de ondas de calor ocorridos entre 1979 e 2015, os pesquisadores constataram que a umidade amplificou a magnitude e a temperatura máxima desses eventos em regiões dos Estados Unidos, na China, no norte da América do Sul e na Malásia. A mesma condição não foi observada nas ondas de calor que abateram a Europa em 2003 e a Rússia em 2010.
As projeções indicam que, com o aumento da temperatura media global, as áreas ao redor do globo expostas ao efeito da umidade também tendem a crescer. Ondas de calor em regiões mais quentes e úmidas no presente serão intensificadas pela umidade.
A probabilidade anual de ocorrência de um evento como o da Rússia em 2010, o mais severo registrado no passado recente, foi projetada como nula ou muito baixa para os dois indicadores no cenário de 1.5°C. Por outro lado, no cenário de 4°C, medida pelo novo indicador da sensação térmica, a probabilidade anual é de 50% para o leste dos Estados Unidos, norte da América do Sul e para a China, e de 10% para a Europa Central, Índia e várias partes da África (ver gráfico e mapas abaixo).
Probabilidade de ocorrência de ondas de calor extremas para diferentes cenários de aquecimento global. A coluna da direita apresenta o indicador que leva em consideração o efeito da umidade (Fig. 2 retirada do estudo) |
Ainda considerando o novo indicador, a probabilidade anual da sensação térmica chegar a 40°C nas regiões do mundo mais quentes e úmidas é de 50% para o cenário de aquecimento global de 2°C e de 90% para o cenário de 4°C. Quanto à probabilidade anual de sensações térmicas da ordem de 55°C, os resultados indicaram 50% de chance no cenário de aquecimento global de 4°C para regiões como o norte e centro da América do Sul, o leste dos Estados Unidos, Índia, China e norte da Austrália.
Os cálculos realizados com o indicador atual resultaram em probabilidades significativamente menores, não exibindo probabilidade de ocorrência de temperaturas máximas da ordem de 55°C. Quanto ao indicador da sensação térmica, os resultados podem ser considerados conservadores, pois se basearam em dados da umidade relativa do ar mínima diária.
A umidade é um importante fator para o estresse térmico associado às ondas de calor, ressaltam os pesquisadores. O entendimento de futuras alterações desse fenômeno e de seus riscos à saúde auxiliam na identificação de regiões mais vulneráveis e ao desenvolvimento de medidas de adaptação adequadas.
Mais informações: Humid heat waves at different warming levels
Imagem: Pixabay
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